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De onde nasceu a expressão “neurocompatível”.
“Neurocompatível” nasceu da ideia do sistema nervoso como um recurso evoluído. Uma educação “compatível” com os verdadeiros recursos da nossa espécie (carinho, amor, necessidade de pertencimento, validação, amamentação, aproximação, sentimento de importância, etc.), considerando sempre a nossa história evolutiva. Para criar uma criança precisamos respeitar os seus mecanismos biológicos, suas necessidades psicológicas e entender suas fases de desenvolvimento. Afinal, como disse Salk em 1973 em “Role of the Heartbeat in the Relationship between Mother and Infant” : “Não é da natureza fornecer aos organismos tendências biológicas, a menos que tais tendências tenham valor de sobrevivência”.

Quem é Márcia Tosin, a idealizadora do Movimento Neurocompatível?
Márcia Tosin é Psicóloga pela PUCPR. Especialista em Psicoterapia Comportamental e Cognitiva pela Universidade Positivo e possui Título de Especialista em Psicologia Clínica chancelado pelo Conselho Federal de Psicologia Brasileiro. Indicada ao Prêmio BID – Qualidade na categoria Ouro na Convenção Internação BID à Qualidade Paris, França, 2018. Atua em atendimentos clínicos com crianças desde 2002.
No que se baseia uma criação neurocompatível?
A criação neurocompatível se pauta nos modelos de parentalidade evolucionistas, fundamentando-se ainda nas ciências: Antropologia e Neurobiologia. É um modelo de educação que reúne várias fontes de evidências científicas.
Uma criação neurocompatível é aquela que compreende que existe mecanismos filogenéticos pré-existentes e construídos na nossa evolução, inclusive que compartilhamos com outros animais, porém elas são predisposições e também precisam do ambiente para a sua manifestação. Por exemplo: a grande maioria de nós pode ficar mais inseguro no escuro ou sentir medo, mas as experiências com a escuridão podem tornar alguém mais medroso ou menos (em alguns casos dormir com uma pequena luz acesa pode deixar alguém mais seguro). As características individuais também são importantes, assim podemos ver pessoas que mesmo criadas em ambientes parecidos podem sentir mais medo de escuro do que outras.
Em um ambiente ancestral foi de grande valia sentir medo de escuro. Temer a escuridão e aumentar os recursos de proteção em um ambiente hostil em que a percepção da visão está prejudicada aumentou as chances de sobrevivência da nossa espécie e, por isso, esse comportamento evoluiu, mesmo quando não estávamos em perigo.
No comportamento da criança encontramos vários comportamentos assim: a necessidade de ficar perto de seus cuidadores, a preferência de dormir junto aos seus adultos referenciais, o rosto arredondado que chama a atenção do adulto para querer cuidar dela, o desconforto do choro e o desejo do adulto para querer saná-lo, a amamentação que traz proximidade, alimentação, aquecimento e conforto, etc.


Quero fazer a certificação profissional, mas gostaria de saber os principais autores que teremos acesso nos cursos para ver se me identifico.
Alguns dos nossos referenciais teóricos, por ordem de importância são: Dra. Darcia Narvaez, Dr. James J. McKenna, Stephen Porges, Alfie Kohn, Jack P. Shonkoff, Thomas Armstrong, Robin Grille, entre outros. Alem disso, se você for psicólogo é recomendável que você adquira o livro Psicologia Evolucionista – Coleção Fundamentos Psicologia de Maria Emilia Yamamoto e Emma Otta.
Uma criação neurocompatível é deixar a criança fazer o que quiser?
Essa é uma grande confusão que se estabelece quando se remove as relações hierárquicas familiares: a ideia de que agora o modelo que prevalecerá é o estilo educativo de negligência.
Primeiro é preciso fazer uma localização do tempo histórico em que vivemos. Infelizmente, a criança ainda é vista como alguém desprovida de dignidade e com menos direitos do adulto e, por isso, alguém pode exercer “comando” sobre elas. Ora, não deixar que a criança se machuque, se alimente mal, não mexa no fogo ou corra na rua são realizados por responsabilidade, cuidado e amor. As crianças se sentem amadas por isso e não controladas. Pode parecer a mesma coisa, mas não é. Os pais não evitam que a criança coma açúcar o dia todo porque são uma autoridade, mas porque se preocupam com a sua saúde e que não adoeça. É uma perspectiva que muda completamente toda a maneira de se relacionar.
O segundo problema é que a pretensão de autoridade, como bem já se sabe, é um caminho fácil para abusos. A criança é naturalmente frágil e desprotegida. A ideia de que ela “domina” adultos já foi refutada pela ciência e, tristemente, é mantida sob argumentos que podem se tornar jovens mimados e sem controle. Alfie Kohn diz que não basta apenas amar as crianças, mas que elas se sintam amadas por nós. Como as crianças se sentem amadas? Será que alguém se sente amado com comandos, correções e desrespeitos? Qual seria a forma mais gentil de aprendizado? E assim a criação neurocompatível aborda novas formas e maneiras muito mais modernas e respeitosas de relação.

Se eu agir conforme é colocado pela criação neurocompatível a minha criança vai mudar e as coisas vão começar a dar certo?
Sempre convidamos os pais e profissionais nos nossos cursos a entenderem a base da Parentalidade Evolucionista. Muitas pessoas desejam “a técnica pela técnica”. A solução rápida como “desmamar à noite em 3 dias”, “desfraldar em dois dias”, “dicas para eliminar birras”, “como fazer uma criança obedecer” e aqui nós propomos um olhar reflexivo sobre o desenvolvimento, a forma de se comunicar, as expectativas e a aceitação. Com certeza esses pais e profissionais que esperariam essa ajuda mais rápida podem ficar decepcionados com o nosso trabalho. A criação neurocompatível é antes de mais nada uma reabilitação parental que exige repensar toda a violência sofrida por esses pais e mães até chegarem na maternidade e paternidade.

Márcia Tosin

Autor desde: 30 de junho de 2021

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